segunda-feira, 21 de abril de 2014

Para acelerar o organismo


Quem tem a saúde e o bem-estar entre seus assuntos preferidos já ouviu falar nos alimentos termogênicos. São aqueles ingredientes que possuem a capacidade de acelerar o gasto calórico do organismo, seja durante a digestão, seja na hora do processo metabólico. Acredita-se que o consumo de determinadas substâncias pode gerar um aumento de até 10% do gasto energético total. O tema ainda é muito discutido entre pesquisadores e seus benefícios ainda não são um consenso geral, mas vários estudos apontam que vale a pena apostar nesses alimentos.
O termo que dá nome a esse grupo de ingredientes vem da termogênese, que corresponde à transformação da energia na forma de calor gerada nos tecidos vivos. E a função dos termogênicos é justamente turbinar essa produção de energia, queimando as reservas do corpo. "Esses ingredientes podem atuar diretamente nas células que armazenam gorduras, os adipócitos, potencializando sua utilização. Outras substâncias agem no sistema nervoso central, estimulando o estado de alerta e a concentração, dando mais disposição", explica a biomédica e bióloga Solange Aparecida Esteves, que é mestre em ciências nutricionais e coordenadora do curso de Gastronomia do Centro Universitário Barão de Mauá (Ribeirão Preto).
De acordo com a especialista, alguns estudos mostram que, sozinhos, esses alimentos produzem um consumo energético 5% superior ao gasto do metabolismo basal, que é a energia necessária para manter as funções vitais normais. "Isso quer dizer que, se uma pessoa gasta 1600 cal para manter o organismo funcionando, passaria a utilizar 1680 cal ingerindo alimentos termogênicos", frisa Solange. Quando se leva em consideração o gasto energético total, esse aumento pode chegar a 10%.
Como complementa a nutricionista Cristina Trovó, a eficiência dos termogênicos depende da combinação ideal. "É a dieta balanceada, conciliada a esses alimentos e à atividade física, que vem demonstrando os melhores resultados", explica a especialista. Para isso, o ideal é sempre recorrer à ajuda profissional antes de redefinir o cardápio.



INGREDIENTES QUE PODEM FAZER A DIFERENÇA
Na lista dos principais ingredientes estão as pimentas, especialmente as vermelhas. Elas são cheias de capsaicina, substâncias que, além de causar aquela sensação de ardência no paladar, favorece a queima de gorduras. O ingrediente ainda estimula o apetite, aumenta a salivação e os movimentos peristálticos, que ajudam a conduzir o alimento por todo o sistema digestivo. Estudos apontam que essa substância favorece a quebra de gorduras.
Entre os mais conhecidos ingredientes termogênicos está, ainda, o gengibre. "Sua capacidade de acelerar o metabolismo se deve ao gingerol, que estimula a eficiência do processo digestivo e também ajuda a aumentar a sensação de saciedade", explica Cristina. Também o Ômega 3, já conhecido por ajudar a diminuir os índices de colesterol ruim e ainda elevar os níveis do bom, também pode ser considerado um termogênico. Portanto, a linhaça e os peixes de águas profundas, como o salmão, o atum e o bacalhau, são excelentes apostas.
A canela também é um termogênico: ela aumenta o gasto calórico do organismo durante a digestão e também ajuda a prevenir doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2. "Isto porque é fonte do mineral cromo, capaz de melhorar o controle da glicemia", acrescenta Solange. Já o cacau entra nesta lista porque contém teobromina que, além de ter ação termogênica no fígado e no tecido adiposo, é capaz de modular o metabolismo das gorduras. Outra poderosa substância presente nesse ingrediente é a cafeína, encontrada, em maior quantidade, no café, no pó de guaraná e no chá verde, entre outros alimentos.
Os benefícios do chá verde, aliás, não se restringem à cafeína. "Na verdade, é a catequina seu grande diferencial, pois essa substância, juntamente com a primeira citada, estimula o sistema nervoso a transformar gordura em fonte de energia", reforça Cristina. Outra bebida em que vale a pena investir é o chá de hibisco. A bebida reduz o processo de maturação das células de gordura, evitando que elas sejam acumuladas no corpo, especialmente no abdômen e nos quadris. Mas atenção: este hibisco não é aquele encontrados nos jardins. Seus nome é Hibiscus saddariffa", explica Solange.


O QUE ARDE... EMAGRECE!
As pimentas são poderosos termogênicos. E é justamente a substância química que dá a ela seu caráter ardido que detém as propriedades benéficas à saúde. "A pimenta vermelha, que existe em vários tamanhos, é fonte de capsaicina e de outros componentes chamados capsaicinoides. Essas substâncias são responsáveis pela ardência característica do ingrediente e têm atraído grande atenção devido a propriedades analgésicas, anticancerígenas, anti-inflamatórias, antioxidantes e antiobesidade. Quanto mais ardida a pimenta, mais capsaicina ela possui e, consequentemente, mais benefícios ela trará. A concentração pode variar de 0,1 a 1% em massa", explica a nutricionista Renata Cavalcante.
De acordo com a especialista, as pimentas favorecem a quebra de gordura no tecido adiposo e podem aumentar em até 20% a atividade metabólica, se ingeridas em quantidades adequadas, podendo ser adicionadas a saladas e pratos quentes como tempero. Alguns pesquisadores recomendam uma dose diária de três gramas de pimenta, visando ao aumento do metabolismo e a perda de peso. "No entanto, é preciso esperar os resultados de novos estudos sobre os efeitos da capsaicina na saúde humana, principalmente no sentido de determinar a quantidade ideal para adquirir tais benefícios", alerta Renata.
A pimenta-do-reino _ a versão natural _ também possui propriedades benéficas ao organismo, mas, nesse caso, é graças à piperina. "Essa substância também aumenta a termogênese natural do corpo. A quantidade desse ingrediente e os efeitos para o organismo são praticamente equivalentes à pimenta vermelha", afirma Renata.
Mas a pimenta não está entre os ingredientes preferidos dos brasileiros. Por aqui, o consumo não chega a 0,5 grama por pessoa. Para se ter uma ideia, na Tailândia, esse número atinge 10 gramas por pessoa. Segundo a nutricionista, o segredo para aumentar esse índice pode estar na elaboração de receitas criativas com o ingrediente. "Diversos tipos de pimentas contêm poucas calorias, são digestivas e ricas em vitamina A, B1, B2, C, E e niacina. Esses frutos também possuem um número significativo de minerais, como magnésio, ferro e aminoácidos, especialmente os de cor vermelha", ressalta Renata, lembrando que nem todas as pessoas podem consumir pimenta. Indivíduos com intolerância, gastrite, esofagite, hemorroida e refluxo, por exemplo, devem evitar este ingrediente. Portanto, consultar um especialista continua sendo a melhor receita.
Mas é preciso tomar cuidado com os exageros, pois os termogênicos podem representar riscos à saúde. "Quando não administrados na forma correta, podem causar insônia, dores de cabeça, taquicardia, enjoo e desconfortos acarretados pela agitação", alerta Cristina Trovó, ressaltando que a eficiência desses ingredientes está na dosagem dos nutrientes. Segundo a especialista, o uso concomitante de vários alimentos termogênicos também é uma conduta perigosa. "Indivíduos com pressão arterial elevada precisam ter cuidado redobrado", acrescenta Cristina. Solange complementa que crianças, gestantes e pessoas com cardiopatias, úlceras e alergias também não devem consumir esses alimentos com muita frequência, pois eles podem provocar, nesses casos, hipoglicemia, distúrbios gastrointestinais, dores de cabeça, nervosismo, insônia e taquicardia.

Fonte: Revista revide - Ano 28 n°15 edição semanal 706 18 de Abril de 2014
          Texto: Luiza Meirelles/Fotos: Carolina Alves